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Petrópolis trabalha para implantar projeto de detecção de câncer de mama por cão farejador

Petrópolis está trabalhando para implantar um projeto inovador que usa um cão farejador para detectar o câncer de mama de forma ainda mais rápida e num estágio ainda mais inicial do que os exames atuais – o que pode ser ainda mais decisivo para a cura. O prefeito Bernardo Rossi foi apresentado a um projeto que já é realizado na França e que está sendo trazido para o país em uma parceria entre o “Institut Curie”, um centro anticanceroso de Paris, e a Sociedade Franco Brasileira de Oncologia (SFBO). A prefeitura já está atuando para viabilizar a realização do trabalho.

Descobrir o câncer de mama hoje em dia é possível por três caminhos. O primeiro deles é o autoexame, quando a mulher toca a mama para identificar eventuais mudanças no seio. Também é possível encontrar a existência de lesões ou secreções com um exame clínico feito por um mastologista ou ginecologista. Nesses dois casos, ao detectar algum nódulo, o tumor já está em estágio mais avançado. Por fim, há a mamografia, um exame radiológico capaz de identificar nódulos ou calcificações que podem ser lesões benignas ou o próprio câncer. Agora, a intenção é usar a capacidade olfativa do cão, para que ele consiga detectar as células cancerígenas através do odor que elas exalam – que é diferente das células saudáveis.

É um projeto espetacular, que pode trazer uma inovação extremamente importante para a saúde da mulher e que está fazendo trazido para o Brasil pelo pessoal de Petrópolis. A prefeitura vai dar todo apoio no que for necessário. Nesse momento, o primeiro passo é encontrar o espaço para esse treinamento e buscar parceiros para adquirir os materiais para montagem desse local.

No início de novembro, uma comitiva brasileira passou 12 dias conhecendo os estudos feitos pelo Institut Curie na França. O trabalho foi visto de perto pelo cinotécnico Leandro Lopes (responsável pelo canil da Guarda Civil), pela oncologista Carla Ismael (sócia do Centro de Terapia Oncológica e presidente da SFBO), pelo oncologista Christian Domenge (vice-presidente da SFBO) e por Roberta Lopes, que se tornou coordenadora administrativa do projeto no Brasil. Agora, o prefeito Bernardo Rossi vai viabilizar o espaço onde um cão será preparado para o serviço. Esse cachorro já foi escolhido: é um pastor holandês de oito meses chamado Black.

Como é feita a detecção do câncer por cão farejador

Na França, o projeto “Kdog” é realizado pela doutora em ciências, Isabelle Fromantin, e por Pierre Bauer, chefe do projeto e ligado ao Institut Curie. Ele foi criado em 2016. Durante a visita dos brasileiros,eles acompanharam um dos treinamentos, em que os três cães preparados para a detecção do câncer de mama foram submetidos a 44 testes. Todos os resultados estavam corretos.

“As células com câncer produzem um odor que é diferente de uma célula saudável. E o cão tem uma capacidade olfativa muitas vezes maior que a do humano. Por isso, ele consegue identificar o câncer até mesmo em estágios ainda mais iniciais antes mesmo do que qualquer outro exame”, explica Roberta Lopes.

“Para esse exame, a paciente faz um procedimento muito simples para coletar uma amostra. Não há contato direto do cão com a paciente em nenhum momento. A paciente coloca uma gaze sobre as mamas durante algumas horas. E é com essa gaze que o cão faz a detecção”, completa Leandro Lopes.

O cão escolhido para esse trabalho já passa por treinamento em fases iniciais para o mecanismo de detecção. Agora, o próximo passo é ensinar a identificar especificamente o odor de células cancerígenas.

Em um artigo chamado “Como reinventar a pesquisa sobre câncer?”, Pierre Bauer destaca que “tão simplesmente quanto eles detectam pequenas quantidades de drogas ou explosivos, os cães podem detectar doses muito baixas de odores liberados pelas células cancerosas através da pele e colhidas em um simples pedaço de tecido. Depois que o cão é treinado, ele pode detectar tantos cânceres quanto necessário em um estágio muito inicial por um preço muito baixo”. Para ele, esse método traz como grande vantagem a possibilidade de ser usado tanto em países desenvolvidos quantos nos mais pobres.

Esse tipo de exame ainda tem dois benefícios clínicos, como explica o vice-presidente da Sociedade Franco Brasileira de Oncologia.

“No Brasil, a recomendação é que mulheres a partir de 40 anos façam a mamografia uma vez a cada dois anos. Ou seja, elas são submetidas a radiação com certa frequência, o que pode trazer outros problemas de saúde. Além disso, o exame não é nada agradável, traz incômodos para elas”, conta Christian Domenge.

O Instituto Nacional do Câncer (Inca) lembra que o câncer de mama é o mais comum entre mulheres no Brasil e no mundo depois do câncer de pele não melanoma. O órgão estima que serão quase 60 mil casos novos este ano no país. Em 2013, 14,2 mil mulheres morreram por causa da doença. A detecção precoce é o principal fator para cura.

“Um dos principais motivos de trazer esse projeto para Petrópolis é principalmente por ter aqui uma rede de PSF atuante no SUS e que funciona bem na cidade na questão preventiva. E esse projeto não requer uma grande estrutura para comportar o laboratório necessário para esse treinamento. Seria uma forma diminuir o custo e o trabalho para detectar o câncer, com uma infraestrutura muito menor e que vai ajudar a aumentar a taxa de cura da doença”, destaca Carla Ismael.

 

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