Uma ajuda mais do que especial: KDOG Brasil treina cachorros para auxiliar na detecção do câncer de mama
Cães recebem tratamento especial e são criados em um ambiente acolhedor
O olfato aguçado dos cães é o foco do projeto KDOG Brasil que treina cães para que eles consigam identificar se a pessoa tem ou não câncer de mama. Inovador, o projeto está em fase de implantação no país e funciona em Petrópolis: são dois cães em treinamento, um da raça pastor, macho de 1 ano e 8 meses e uma fêmea, braco alemão, de 8 meses.
A ideia é que o KDOG Brasil se torne uma triagem de acesso à mamografia pelo SUS. Vale destacar que o projeto KDOG já é utilizado na França como suporte no trabalho de detecção do câncer: funciona como uma triagem que pode adiantar os processos na confirmação da doença, lembrando que a detecção precoce aumenta a chance de sucesso no tratamento.
“Em Petrópolis há mais de 2 mil mulheres à espera da mamografia e isto gera uma espera de 6 a 8 meses. Para a mulher que está doente é muito tempo. O projeto está em fase de implementação, depois que estiver aprovado na Plataforma Brasil vamos precisar de voluntárias que tenham câncer de mama e que ainda não tenham começado nenhum tratamento. O projeto na França tem uma probabilidade de acerto de 91,8%. E nós aqui no Brasil pretendemos melhorar este índice. Com isso, poderemos ter respostas que eles ainda não têm lá”, conta Roberta Lopes, uma das responsáveis pelo projeto.
Como funciona o procedimento:
A pessoa não precisará ter contato com os cães durante o processo de possível identificação. “As voluntárias não precisarão vir até nós. A paciente receberá de seu médico um kit, com um pacote de compressas estéreis, um envelope tipo zip de alumínio e um envelope com lacre. A mulher deverá, antes de dormir, colocar um sutiã, lavar as mãos com sabonete neutro e colocar sobre cada mama uma compressa. Pela manhã ela deverá lavar as mãos novamente com sabonete neutro e retirar as compressas e colocá-las no envelope de alumínio, fechar bem, colocar no segundo envelope com lacre e nos enviar”, conta Roberta.
Na sede do KDOG, as compressas serão colocadas em vidros estéreis.”Eles serão encaixados em cones de aço inox e os cães passarão “cheirando” estes cones e, se houver alguma compressa com tumor, ele sinalizará. Os cães não têm acesso visual ou físico com as compressas. Somente têm acesso ao odor”, completa Roberta, afirmando que “o ideal seria que toda mulher que sai de uma consulta de ginecologia e mastologia no SUS fosse encaminhada primeiro ao projeto. Também seria útil utilizar o projeto para fazer triagem de mulheres que moram em região de difícil acesso. E, se o cão marcasse alguma coisa, esta mulher deveria ir para o topo da fila para realização da mamografia”.
Escolha das raças e tratamento especial
A escolha das raças para atuação no projeto é feita a partir do tamanho do cônico olfativo (focinho).
“Quanto maior o cônico maior o número de células olfativas. A raça com o maior número de células olfativas é o bloodhound que é muito usado em busca de desaparecidos e elucidação de crimes. Esta raça trabalha melhor em espaços abertos. As raças mais utilizadas no mundo inteiro para detecção são os pastores e alguns cães de caça como beagle, labrador, braco alemão e até jack russell”, conta Roberta.
O cão deve ter bastante energia e disposição, mas também ser obediente e dócil. O cinotécnico do projeto, Leandro Lopes, tem experiência de quase 30 anos em treinamento de cães e treinamento K-9 e foi ele quem selecionou os cães. Vale salientar que Leandro Lopes também é responsável pelo canil da Guarda Civil Municipal de Petrópolis.
Segundo ele, Ônix e Fama recebem todo cuidado e carinho da equipe. “O treinamento é feito de forma bastante positiva. Eles adoram participar e são felizes aqui, porque fazem parte da nossa família. Eles são acompanhados por veterinários, têm acesso a alimentação de primeira qualidade e ficam em instalações adequadas, com monitoramento 24 horas, o foco principal é o bem estar dos animais”, garante Leandro Lopes.
Início dos testes
De acordo com Roberta, a expectativa é de que a aprovação para acesso aos pacientes ocorra nos próximos meses. “A Plataforma Brasil, site do governo federal, CNPQ, estava em recesso até o final do mês de janeiro. Lá estão cadastrados todos os projetos científicos em curso no país. É como uma banca examinadora e precisamos da aprovação para termos acesso às pacientes”, explicou.
Em busca de apoiadores
O Projeto KDOG Brasil tem o patrocínio da Royal Canin do Brasil e da Vetnil – a Royal Canin também apoia o projeto na França e a Vetnil é o maior laboratório de produtos veterinários da América Latina. Mas, é preciso mais apoiadores. “Precisamos porque já temos despesas de manutenção, aluguel e contas cotidianas. E teremos também a despesa para a montagem dos kits e logística para que cheguem até nós”, diz Roberta.
Marcia Coelho Netto é uma apoiadora e integra o conselho do projeto. “Eu acho este trabalho revolucionário! É um projeto pioneiro na América Latina que já tem resultados super positivos na França. Não podemos esquecer que sendo diagnosticado precocemente o câncer a chance de cura é muito maior. Aqui temos mulheres na fila para realizar a mamografia e se já houvesse uma triagem através deste trabalho, realizado pelos cães, as que já estão com o câncer poderiam já iniciar o tratamento. Imaginem quantas mulheres seriam salvas? E o mais incrível é o respeito ao trabalho dos cães que é realizado de forma lúdica e prazerosa”, conta Marcia.
Quem quiser conhecer o projeto e quiser ser um colaborador, pode entrar em contato e-mail: rogarpe@outlook.com ou pelo telefone do projeto: 2235- 2363 ou, ainda, presencialmente no endereço: Rua Bartolomeu de Gusmão, nº 54, Centro.
Equipe
Os cães são treinados pelo adestrador Leandro Lopes, que é o cinotécnico responsável pelo projeto. Além dele, o programa conta com a participação de Carla Ismael Domenge – médica oncologista; Christian Domenge – médico oncologista franco brasileiro e médico responsável pelo projeto; Vinicius Leite – mastologista; Pedro Ismael – médico oncologista no CTO; Alexandre Ururahy Rodrigues – biólogo e professor adjunto na Universidade de Vassouras; Jane Rocha – oncologista em Juiz de fora; Homero Gonçalves Júnior – mastologista em Juiz de Fora; Maximiliano Rocha – professor epidemiologista na UFJF e Janaína Gelli – médica veterinária. Também integram a equipe Antony Diogo, coordenador financeiro e Roberta Lopes que é a coordenadora e administradora do projeto.
Câncer de mama
O câncer de mama é uma doença causada pela multiplicação desordenada de células anormais da mama. A maioria dos casos, quando tratados adequadamente e em tempo oportuno, apresenta bom prognóstico. O SUS oferece tratamento para o câncer de mama. Números de 2021 do INCA confirmam que, já no ano passado, a estimativa de casos chegou a 66.280.
*Publicado em Diário de Petrópolis